domingo, 25 de setembro de 2011

As Crianças e seus Ideais

Nossa educação cultua desde cedo em nossas mentes, o ideal de ser alguém importante. Daí a idolatria aos grandes vultos históricos, antigos ou contemporâneos, que nos servem como exemplo de virtude, coragem e realização. São os chamados heróis que todos nós idealizamos ser um dia, seja por admiração pelos seus feitos, seja pela história de vida que sempre culmina em sucesso. Mesmo um herói que depois tenha fracassado, apenas sua história de sucesso chega ao nosso conhecimento, e imagine nossa frustração quando descobrimos depois, que nosso ídolo era na verdade uma fantasia. Toda sociedade não pode prescindir dos seus heróis, é o momento máximo no culto ao sucesso, o que acaba se tornando um objetivo para todos.
Assim é ensinado, o culto aos heróis. Desse modo, o herói se torna importante, e idealizamos ser igual a eles. Mas ao glorificarmos o herói e orientarmos nossos filhos e alunos para que os imitem, estamos também lhe pedindo para que renunciem o que são em favor da imitação de outrem. Quando desejamos copiar alguém nos tornamos hipócritas, pois estaremos sempre fingindo ser o que efetivamente não somos, representaremos papéis que se prestam apenas a agradar pessoas em troca de favores.
Ao ser comparado a outro, querendo ser alguém, a criança logo não se considera importante, não vê a si mesmo, assim como ele é, alguém digno de um futuro, não sente motivação alguma para investir em si, não terá confiança de que é capaz de ser alguém bem sucedido sem imitar alguém. Idealizará viver a vida de outros, de pessoas bem sucedidas, que se destacaram na vida; terá uma predestinação natural para seguir os exemplos que tanto glorificam nas escolas e nos meios de comunicação. Tentará como uma máquina capaz de repetir gestos, imitar seus gostos excêntricos, seu modo de vestir, sua forma de pensar, seu inteiro modo de viver, sem entender que aquelas celebridades, na grande maioria das vezes, publicamente apenas interpretam papéis de personagens que nunca foram ou serão, um jogo de cena para um público ávido pelas suas extravagâncias teatrais, que alimentará toda uma cadeia que faz da representação sua existência. Ao imitar um personagem, só restará a aquele jovem a frustração sem fim, já que tentará ser aquilo que não é, imitando alguém que não existe.
Mostrar uma mentira, um mundo que não existe de fato, criar uma falsa expectativa em nossos filhos, uma certeza de frustração quando descobrirem o que é real, podemos considerar isso educação correta? Mas é o modelo vigente dentro dos nossos padrões de sociedade, o modelo que adotamos e repassamos para eles.
Um ideal é um desejo que se opõe à realidade de alguma coisa. Desse modo, se sou medroso, posso ter como ideal ser corajoso. Todas as nossas frustrações são produtos de ideais não concretizados. É sempre a mesma coisa, diante de um processo de escolha, estamos em permanente conflito. Se preciso escolher é por que não tenho certeza, e acabo escolhendo aquilo que, naquele momento, se mostra mais favorável para mim, o que representa uma condição cruel, pois sei que as coisas mudam de rumo a todo instante, e logo minha escolha pode revelar-se como não mais adequada. É um risco que me angustia, pois mesmo que ela se mostre viável por um tempo, com o passar desse tempo, a outra opção de alguma forma se mostrará como também adequada, e eis o problema, talvez mais adequada que aquela inicialmente escolhida. Isso ocorre porque ao escolhermos diante de duas ou mais opções, é porque todas elas se mostraram viáveis diante de nossa análise, e esgotada uma delas, logo desejamos também explorar a outra, ou outras.
Diante de uma realidade, logo mentalizamos seu oposto, é como funciona todo um processo de escolha, pois toda escolha representa um ideal que queremos alcançar. Sendo um aluno medíocre, logo nos comparamos com o melhor da turma, e meu ideal é ser o melhor. Desse modo, nossos objetivos se tornam nossas fugas à realidade da coisa, e uma fuga é sempre seu oposto. Se tenho medo devo ser corajoso, se estou com frio procuro me aquecer, se sou pobre quero me tornar rico, se já sou rico não desejo ser pobre. O ideal do medroso é ser corajoso, do pobre é ser rico, do friorento é estar aquecido, do rico é não ficar pobre, sempre o oposto, um objetivo, uma fuga à realidade. Mas um oposto é por natureza o contrário de qualquer coisa, e caracteriza para sempre nossa insatisfação com nossas escolhas, nossa eterna contradição, e escolhemos porque nunca estamos certos de nada em nossas vidas.
"O ideal de cada um, é uma realidade que não nos agrada...”
Nanny Lopes

Um comentário:

  1. Excelete post. Parabéns pelo blog. Espero que teja milhões de acessos.

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