quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Corpo e Mente na Educação

Sandra CelanoSaúde é um estado que depende de interações entre pessoas e ambientes que, em níveis profundos, são campos de energia interconectados. Pesquisas da física, da neurociência, da psiconeuroimunologia sugerem que a qualidade dos espaços intra e intersubjetivos afeta o entorno e é por ele afetado.

Existe uma tecnologia leve e delicada que ajuda qualquer pessoa ou grupo a construir estados pacíficos, dissolver bloqueios afetivos, criar harmonia e paz. Autoconhecimento, consciência corporal, reciclagem emocional, respiração, silêncio, entre outras práticas ajudam a experimentar novos estados e criativas respostas.
A abordagem transpessoal em psicologia busca a manifestação da essência, acompanhando seus fluxos que atravessam corpo, emoções, mente e ambiente - dimensões da multidimensionalidade humana ainda vistas separadamente, o que gera abordagens pedagógicas com sérios impactos nas crianças. Aposta na sensibilidade dos educadores para acompanharem o ponto evolutivo em que elas se encontram hoje e na necessidade de um melhor preparo para manejar crises, decodificando a linguagem de sintomas e perturbações que os desafiam diariamente.
Educadores são agentes de cura social se iniciam em si mesmos o trabalho que desejam ver no mundo. E passam a se encantar com essa intercomunicação incessante entre tudo no universo, pois não há separação entre nós e uma estrela distante, nem entre a lua, o micróbio e cada um de nós.
Somos campos de energia que se entrelaçam, mas precisamos ampliar o foco da consciência para nestes estados mergulharmos. Muito conhecemos do céu, das estrelas e das flores, mas quase nada sabemos sobre como ancorar esse conhecimento em nossa vida diária. Nossas mentes, nossos sentimentos e nossas ações geralmente seguem caminhos antagônicos, afastando-nos do profundo núcleo que integra estes níveis e que é a natureza essencial a ser desvelada.
Ser saudável é cuidar de si, cuidar do outro e cuidar da Terra, sendo capaz de uma percepção trans, uma percepção que se move entre, através e além de pessoas, coisas e eventos. E é por uma educação que inclua a transcendência que nossas crianças hoje clamam.
Sandra Celano é psicoterapeuta transpessoal. Criadora e coordenadora da Gente em Flor - Escola para Terapeutas Sociais, escreveu os livros "Corpo e Mente na Educação - uma saída de emergência" (Ed. Vozes) e "Mãos que Tocam a Alma - Sugestões para uma Educação Transdisciplinar", este em co-autoria com Ivan Guerrini (Ed. Triom).

O Professor como Arquiteto da Aprendizagem

Rafael ParenteNão é de hoje que grandes pensadores da educação sugerem que os educadores devem abandonar o papel de detentores do conhecimento e centralizadores da atenção nas aulas por uma postura mediadora, que favoreça uma aprendizagem colaborativa, centrada nas necessidades dos alunos. Paulo Freire criticou a "educação bancária" e recomendou uma "educação libertadora" que utilizasse e desenvolvesse a consciência crítica do educador e do educando. Para Moacir Gadotti, o professor deixaria de ser um lecionador e se tornaria um mediador do conhecimento, organizando a aprendizagem. Antônio Carlos Gomes da Costa citou uma metáfora de Peter Senge para explicar que a organização da aprendizagem precisa deixar o modelo de máquina e se transformar no modelo do jardim e do jardineiro, com relações marcadas pelo cuidado, pelo apreço e dedicação à vida de todos e cada um. Com a entrada das novas tecnologias nas escolas públicas e ao contrário do que muitos imaginam, essa mudança pode estar acontecendo.

Pesquisas recentemente realizadas indicam que a maioria dos professores das rede municipal do Rio de Janeiro não mais descarta o computador e a internet como modismos, deseja capacitações frequentes para melhorar seu trabalho com as novas tecnologias e sente-se motivada e receptiva para repensar suas práticas pedagógicas. A pesquisa "Megafone na Escola", do Instituto Desiderata, concluiu que alunos e professores desejam ter mais computadores, internet e novas tecnologias nas escolas e acreditam que novas tecnologias e novas mídias são elementos essenciais para que "a escola se torne um lugar melhor para estudar e ensinar" e para que as aulas "fiquem melhores". Uma outra pesquisa, realizada pelo Instituto Oi Futuro e a Secretaria Municipal de Educação, com o apoio do Ibope e do Instituto Paulo Montenegro, apresentou resultados ainda mais surpreendentes. Foram aplicados mais de 35 mil questionários para alunos, professores e diretores, com o objetivo de compreender o relacionamento desses três públicos com as novas tecnologias. As conclusões mais interessantes foram:
- A maioria absoluta dos três públicos (mais de 80% em cada) acredita que as novas tecnologias podem contribuir bastante para a aprendizagem;
- Professores e diretores consideram que capacitações relacionadas à utilização das novas tecnologias são as mais importantes para sua atuação profissional. Em segundo lugar, os professores optaram por capacitações voltadas para a integração de tecnologias às aulas e diretores desejam aquelas voltadas para gestão escolar;
- Os três públicos acreditam na necessidade da utilização das novas tecnologias para o desenvolvimento educacional. Para os alunos, as novas tecnologias os mantêm conectados ao seu mundo, aumentam seu conhecimento e sua autoestima; Para professores, elas são o canal para o conhecimento e para o mundo globalizado; Diretores concordam com os professores e creem que as novas tecnologias também têm o poder de democratizar o acesso à informação, estimulando a participação cidadã;
- 75% dos alunos da rede já têm computadores em casa, 66% deles acessam a internet diariamente de suas casas e menos de 20% ainda dependem de lan houses;
- A utilização de novas tecnologias por professores e diretores para compartilhar práticas ou soluções com colegas e para se conectarem aos alunos e familiares criando uma extensão do ambiente educacional ainda precisa de estímulos;
- Com relação ao conforto na utilização, como previsto, alunos dizem saber utilizar muito mais ferramentas do que professores e diretores e todos os públicos expressam o desejo de participarem de cursos com essa finalidade nas unidades de ensino;
- Mais de 60% de professores e diretores concordam totalmente (cerca de 15%) ou parcialmente (cerca de 45%) que atualmente as novas tecnologias vencem os livros como principal fonte de informação; No caso dos alunos, 45% deles concordam totalmente e 32% concordam parcialmente que a internet é uma melhor fonte de informações do que os livros.
Atenta aos resultados dessas pesquisas que comprovam mudanças na mentalidade e nas expectativas de professores e alunos, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro está investindo na infraestrutura e manutenção das escolas, planejando cursos de capacitação para professores e gestores e remodelando metodologias, sistemas e práticas, sempre em parceria com o Ministério da Educação, institutos, fundações e empresas. Nossos professores ajudaram a criar e avaliar a utilização da Educopédia, uma plataforma colaborativa de aulas digitais que tem o mesmo peso que apostilas e livros didáticos nas salas de aula. Nessa avaliação, pesquisadores de universidades cariocas descobriram, por exemplo, que a grande maioria dos alunos acha que a plataforma facilita a compreensão dos conceitos, que ajuda no estudo para provas bimestrais e que as aulas ficaram mais interessantes, enquanto somente 9% dos professores acreditam que essa nova ferramenta não teve um impacto positivo na participação e motivação dos alunos. Os resultados de todas essas pesquisas estão à disposição para pesquisadores e para o público em geral.
O impacto das novas tecnologias já é uma realidade na vida de alunos e professores. Avaliar o que os melhores sistemas de educação do mundo fizeram no século passado sem uma análise prévia e cuidadosa desse impacto pode ser um grande erro. Nossas pesquisas em campo comprovam que o professor da cidade do Rio de Janeiro já está reavaliando a sua postura em sala de aula, com o desejo de se tornar um mediador e de aprender junto com os alunos. O investimento em novas ferramentas e procedimentos relacionados às novas tecnologias precisa fazer parte do planejamento estratégico de todos os governos se queremos, de fato, dar um salto na qualidade da educação pública no nosso país. Os educadores e alunos cariocas já sabem disso e estão ávidos por novidades. A preferência é que elas cheguem via Twitter, jogos virtuais e tablets.
Rafael Parente é formado em publicidade, mestre em gestão da educação, concluindo um PhD em educação internacional e desenvolvimento pela NYU. Nascido em Brasília, mora no Rio há 2 anos. É subsecretário de projetos estratégicos da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Rafael Parente e cedido pelo autor para publicação no Pedagogia Indaiatuba.

Internet na sala de aula


1. A escola que não está na internet está fadada a ficar para trás?
Acredito que estão fadadas a ficar para trás e fracassar as escolas que não atendem aos interesses e necessidades de seus alunos e da comunidade onde estão inseridas. Aquelas que não estão receptivas a mudanças, que não ouvem seus alunos, que repetem as mesmas técnicas, sem reflexão, sem crítica, sem análise.

Não podemos parar no tempo enquanto a ciência e a tecnologia avançam acreditando que a educação será eficaz na base da mera transmissão de conhecimentos pelo professor, de cópias da lousa e exercícios em livros e cadernos. Vivemos na era tecnológica e nossos alunos, nativos digitais, anseiam pelo aprendizado que explore todas as habilidades e potencialidades que eles conhecem através da web e dos programas de computador.

É urgente acompanharmos essa evolução, transformando as escolas num espaço condizente com a era em que vivemos. Porém, sabemos que a realidade brasileira ainda está distante das tecnologias e que há resistência por parte dos professores.

2- Há escolas (e empresas, e pessoas) que se empolgam com a tecnologia em si, presenteando alunos com acesso banda larga e até tablets. Mas tecnologia, sozinha, não faz milagres, não é mesmo?
Sem dúvida. Os educadores hoje precisam enfatizar a curiosidade, a criatividade, a inovação, a pesquisa e a imaginação. Incentivar a autonomia individual e a solidariedade, prevenir insucessos e lutar contra as desigualdades, favorecer o ensino experimental e o espírito científico, abrir novos horizontes, aliando a compreensão das origens e raízes à identidade da inovação científica e tecnológica. Porém, não se pode restringir as aulas aos tablets e à internet. É imprescindível variar as propostas de atividades, explorando recursos diversos como: artes plásticas, música, movimento, contação de histórias, dinâmicas, entre outros. Independente do recurso ser ou não tecnológico, essa variedade é essencial, pois cada pessoa aprende de uma forma, temos habilidades diferentes e todas merecem ser desenvolvidas.

Uma escola de excelência precisa ser consciente que a sua principal missão que é educar para cidadania. Não podemos mecanizar o ensino, devemos resgatar afetos, valorizar sentimentos, explorar valores de convivência éticos e morais.

3. Se uma escola deseja criar um projeto pedagógico prevendo a internet, que conselhos-chave você daria?
É importante elaborar um projeto didático e/ou pedagógico de uso dos recursos deste ambiente virtual, mas a finalidade técnica não pode ser pensada sem a intencionalidade pedagógica. A proposta é ensinar crianças e jovens a navegarem de forma segura, positiva e eficaz, transformando a tecnologia em grande aliada do processo ensinoaprendizagem. Usar a internet apenas para passar o tempo não adianta nada.

Ensinar utilizando a internet exige uma forte dose de atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação se torna mais sedutora do que o necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos, lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. Portanto, cabe ao professor planejar bem o que vai ser trabalhado, orientando os alunos a analisar, comparar, separar o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias, assinalando coincidências e divergências.

4. Professores e alunos, às vezes, podem "misturar os canais" nas redes sociais, confundindo o papel de professor com o papel de "colega". Que riscos isso pode trazer?
Cabe ao professor deixar claro aos seus alunos os objetivos dos trabalhos nos ambientes virtuais. Se quiser, extra sala de aula, manter contato com os alunos nas redes, o professor pode criar perfis profissionais para tal. Assim, sua privacidade será mantida. Todavia, também é possível permitir que os alunos saibam um pouco de sua vida pessoal desde que haja um clima de respeito baseado em prévias combinações de regras. O maior risco é que se perca a intencionalidade pedagógica se o trabalho não for bem planejado e combinado.

5. Quais as principais regras de segurança a se adotar numa escola que se propõe a usar intensamente a internet e as redes sociais?
O primeiro passo é o planejamento pedagógico que deve ser realizado pela equipe docente, coordenação e direção da escola. Tal planejamento deixará claro quais são os objetivos do uso da internet e das redes sociais para cada classe: Até onde podemos ir? O que cada atividade trará de útil para os alunos? Quais atividades serão realizadas? Com isso definido deve-se através de uma reunião transmitir aos pais e responsáveis como será desenvolvido o trabalho deixando-os tranqüilos, demonstrando que há uma intenção não somente de inovação, mas de usar a tecnologia como aliada no processo ensino -aprendizagem.

Não podemos deslumbrar-nos com a pesquisa na internet e deixar de lado outras tecnologias. A chave do sucesso está em integrar a internet com as outras tecnologias - vídeo, televisão, jornal, computador sem acesso a web. Integrar o mais avançado com as técnicas já conhecidas, dentro de uma visão pedagógica nova, criativa, aberta.

Criam-se todos os dias mais de cento e quarenta mil novas páginas de informações e serviços na rede. Há informações demais e conhecimento de menos no uso da internet na educação. E há uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis. Na informação os dados estão organizados dentro de uma lógica, de um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento se cria, se constrói.

A internet é uma ferramenta fantástica para abrir caminhos novos, para abrir a escola para o mundo, para trazer inúmeras formas de contato com o mundo. Mas essas possibilidades só acontecem se, na prática, as pessoas estão atentas, preparadas, motivadas para querer saber, aprofundar, avançar na pesquisa, na compreensão do mundo. Quem está acomodado em uma atitude superficial diante das coisas, pesquisará de forma superficial.


Paty Fonte (Patrícia Lopes da Fonte) é educadora especialista em pedagogia de projetos, escritora, autora de mais de 150 temas de projetos didáticos e pedagógicos e do livro "Projetos Pedagógicos Dinâmicos: a paixão de educar e o desafio de inovar" (WAK editora); autora e tutora de cursos presenciais e on-line de educação continuada a docentes, coach, palestrante. Idealizadora e diretora do site: http://www.projetospedagogicosdinamicos.com/
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E-mail: patyfonte@projetospedagogicosdinamicos.com
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