sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Linha Tradicional

A linha tradicional de ensino teve a sua origem no século XVIII, a partir do Iluminismo. O objetivo principal era universalizar o acesso do indivíduo ao conhecimento. Possui um modelo firmado e certa resistência em aceitar inovações, e por isso foi considerada ultrapassada nas décadas de 60 e 70.
As escolas que adotam a linha tradicional acreditam que a formação de um aluno crítico e criativo depende justamente da bagagem de informação adquirida e do domínio dos conhecimentos consolidados.
Não há lugar para o aluno atuar, agir ou reagir de forma individual. Não existem atividades práticas que permitem aos alunos inquirir, criar e construir. Geralmente, as aulas são expositivas, com muita teoria e exercícios sistematizados para a memorização.
O professor é o guia do processo educativo e exerce uma espécie de “poder”. Tem como função transmitir conhecimento e informações, mantendo certa distância dos alunos, que são “elementos passivos”, em sala de aula.
As avaliações são periódicas, por meio de provas, e medem a quantidade de informação que o aluno conseguiu absorver.
São escolas que preparam seus alunos para o vestibular desde o início do currículo escolar e enfatizam que não há como formar um aluno questionador sem uma base sólida, rígida e normativa de informação.

Linha Waldorf

A Pedagogia Waldorf se baseia na Antroposofia (gr.: antropos = ser humano; sofia = sabedoria), ciência elaborada por Rudolf Steiner, que estuda o ser humano em seus três aspectos: o físico, a alma e o espírito, de acordo com as características de cada um e da sua faixa etária, buscando-se uma perfeita integração do corpo, da alma e do espírito, ou seja, entre o pensar, o sentir e o querer.
Foi criada em 1919 na Alemanha e está presente no mundo inteiro. O ensino teórico é sempre acompanhado pelo prático, com grande enfoque nas atividades corporais, artísticas e artesanais, de acordo com a idade dos estudantes. O foco principal da Pedagogia Waldorf é o de desenvolver seres humanos capazes de, por eles próprios, dar sentido e direção às suas vidas.
Tanto o aprimoramento cognitivo como o amadurecimento emocional e a capacidade volitiva recebem igual atenção no dia a dia da escola. Nessa concepção predomina o exercício e desenvolvimento de habilidades e não de mero acúmulo de informações, cultivando a ciência, a arte e os valores morais e espirituais necessárias ao ser humano.
O currículo, que se orienta pela lei básica da biografia humana, os setênios – ciclos de sete anos- (0-7/ 7-14/ 14-21) oferece ricas vivências, alternando as matérias do conhecimento com aquelas que se direcionam ao sentir e agir. Não há repetência, justamente para que as etapas de aprendizagem possam estar em sintonia com o ritmo biológico próprio de cada idade.
No primeiro ciclo (0-7), a ênfase é no desenvolvimento psicomotor, essa fase é dedicada principalmente às atividades lúdicas, ela não inclui o processo de alfabetização. O segundo ciclo (7-14), que corresponde ao ensino fundamental, compreende a alfabetização e a educação dos sentimentos, para que os alunos adquiram maturidade emocional. Nesta fase, não existe professores específicos para cada disciplina, mas sim um tutor responsável por todas as matérias, que acompanha a mesma turma durante os sete anos. O tutor é uma referência de comportamento e disciplina para que o aluno possa se espelhar.
Já no terceiro ciclo, equivalente ao ensino médio (14-21), o estudante está pronto para exercitar o pensamento e fazer uma análise crítica do mundo. As disciplinas são dividas por épocas, em vez de ter aulas de diversas disciplinas ao longo do dia ou da semana, o estudante passa quatro semanas vendo uma única matéria. Nessa fase entram os professores especialistas, mas as classes continuam com um tutor.
A avaliação dos alunos é baseada nas atividades diárias, que resultam em boletins descritivos. O progresso dos alunos é exposto detalhadamente em boletins manuscritos, nos quais são mencionadas as habilidades sociais e virtudes como perseverança, interesse, automotivação e força de vontade. Como conseqüência, o jovem aluno tem grandes chances de se tornar um adulto saudável e equilibrado capaz de agir com segurança no mundo.

Linha Montessoriana

Criada pela pedagoga italiana Maria Montessori (1870-1952), a linha montessoriana valoriza a educação pelos sentidos e pelo movimento para estimular a concentração e as percepções sensório-motoras da criança.
O método parte da idéia de que a criança é dotada de infinitas potencialidades. Individualidade, atividade e liberdade do aluno são as bases da teoria, com ênfase para o conceito de indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto do ensino.
Maria Montessori acreditava que nem a educação nem a vida deveriam se limitar às conquistas materiais. Os objetivos individuais mais importantes seriam: encontrar um lugar no mundo, desenvolver um trabalho gratificante e nutrir paz e densidade interiores para ter a capacidade de amar.
As escolas montessorianas incentivam seus alunos a desenvolver um senso de responsabilidade pelo próprio aprendizado e adquirir autoconfiança. As instituições levam em conta a personalidade de cada criança, enfatizando experiências e manuseios de materiais para obter a concentração individual e o aprendizado. Os alunos são expostos a trabalhos, jogos e atividades lúdicas, que os aproximem da ciência, da arte e da música.
A divisão das turmas segue um modelo diferente do convencional: as crianças de idades diferentes são agrupadas numa mesma turma. Nessas classes, alunos de 5 e 6 anos estudam na mesma sala e seguem um programa único. Posteriormente eles passam para as turmas de 7 e 8, em seguida para as de 9 e 10, e, finalmente alcançam o último estágio, que agrega jovens de 11,12,13 e 14 anos. Até os 10 anos, os alunos têm aulas com um único professor polivalente, enquanto nas salas de 11 a 14, esse professor ganha a companhia de docentes específicos para cada disciplina.
Os professores dessa linha de ensino são guias que removem obstáculos da aprendizagem, localizando e trabalhando as dificuldades de cada aluno. Sugerem e orientam as atividades, deixando que o próprio aluno se corrija, adquirindo assim maior autoconfiança.
A avaliação é realizada para todas as tarefas, portanto, não existem provas formais.

Linha Construtivista

Inspirado nas idéias do suíço Jean Piaget (1896- 1980), o método procura instigar a curiosidade, já que o aluno é levado a encontrar as respostas a partir de seus próprios conhecimentos e de sua interação com a realidade e com os colegas.
Uma aluna de Piaget, Emilia Ferrero, ampliou a teoria para o campo da leitura e da escrita e concluiu que a criança pode se alfabetizar sozinha, desde que esteja em ambiente que estimule o contato com letras e textos.
O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estimulo a dúvida e o desenvolvimento do raciocínio, entre outros procedimentos. A partir de sua ação, vai estabelecendo as propriedades dos objetos e construindo as características do mundo.
Noções como proporção, quantidade, causalidade, volume e outras, surgem da própria interação da criança com o meio em que vive. Vão sendo formados esquemas que lhe permitem agir sobre a realidade de um modo muito mais complexo do que podia fazer com seus reflexos iniciais, e sua conduta vai enriquecendo-se constantemente. Assim, constrói um mundo de objetos e de pessoas onde começa a ser capaz de fazer antecipações sobre o que irá acontecer.
O método enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como um trampolim na rota da aprendizagem. A teoria condena a rigidez nos procedimentos de ensino, as avaliações padronizadas e a utilização de material didático demasiadamente estranho ao universo pessoal do aluno.
As disciplinas estão voltadas para a reflexão e auto-avaliação, portanto a escola não é considerada rígida.
Existem várias escolas utilizando este método. Mais do que uma linha pedagógica, o construtivismo é uma teoria psicológica que busca explicar como se modificam as estratégias de conhecimento do individuo no decorrer de sua vida.

Projeto: “Estreitando os laços”

O laço e o abraço
“Como é engraçado!... Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...
Uma fita dando voltas? Se enrosca...Mas não se embola , vira, revira, circula e pronto:
 está dado o abraço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de  braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido,
 em qualquer coisa onde o faço. E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
 Vai escorregando devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido. E na fita que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento? Como um pedaço de fita?
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade. E quando alguém briga, então se diz - romperam-se os laços.-
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.

Então a amizade é isso... Não prende, não escraviza, não aperta, não sufoca.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço”.
 
       O texto acima ilustra o quanto o processo de construção de um relacionamento não acontece de forma mágica. A observância de alguns princípios norteadores são fundamentais nessa construção como, por exemplo, reconhecer que todas as pessoas são merecedoras da confiança, da amizade e do respeito dos outros.  A pessoa é um ser em constante relação. Essa relação é estabelecida consigo mesma e com os outros, na tentativa de satisfazer as próprias necessidades. amadurecer e realizar-se.
      A consciência desse complexo processo não pode ser adquirida através do estudo de conceitos teóricos, mas de uma vivência que seja capaz de modificar a mentalidade, criando uma nova forma de conceber e vivenciar, na prática cotidiana, uma nova postura que se refere às relações interpessoais no ambiente escolar. Num relacionamento autêntico, cada um se interessa pelo outro de maneira genuína. Os direitos individuais terão que ser defendidos e respeitados, não poderão ser barganhados, pois estes existem por si mesmo. A tarefa num relacionamento está em proteger os direitos das pessoas nele envolvidas.
      Vivemos em relação com as outras pessoas, nas diversas esferas de nossa vida. cada uma com maneiras diferentes de perceber, de interpretar o que está ao seu redor. Saber lidar com elas é uma arte necessária ao sucesso de qualquer atividade humana. A  Equipe Pedagógica  há de considerar o trato com as pessoas, incluindo a compreensão, a tolerância como formas de construir um espaço escolar marcado pela ação coletiva e participativa. Dentro desse processo, alguns fatores, que são citados a seguir, tornam-se evidentes e, portanto, fundamentais.
  • Saber olhar é importante, pois, quando as pessoas chegam aos nossos olhos em sua maneira positiva de ser, conseguimos enxergar os valores a saberemos como aproveitá-los.
  •  Saber ouvir não significa ficar em silêncio, demonstrar apenas paciência à escuta, mas o entendimento daqueles que falam.
  • Saber, falar: mesmo que o que tenhamos a dizer seja difícil, e amenizar a situação com nossas palavras, tornando mais fácil o assunto.

        A Coordenação é responsável pela formação continuada do professorado, não é nenhum mágico com dicas na cartola, ao contrário do que muitos desejam. Promove estudos e reflexões para que juntos encontrem estratégias para melhorar o desempenho escolar dos alunos, a constituição da linha pedagógica da escola e muitas avalia de perto as crianças  com dificuldades  para detectar as lacunas no aprendizado.
       Ao longo dos 12 anos  atuando na Educação, como educadora, um questionamento se fez necessário: "qual é o nosso verdadeiro papel na escola?". Torna-se, portanto, clara a necessidade das pessoas possuírem princípios que norteiem suas vidas para serem capazes de firmar relações construtivas com os que as cercam.

      Um princípio fundamental é acreditar que as demais pessoas são inerentemente boas, fato que possibilita a construção de um relacionamento pautado sobre as realidades da harmonia e do conflito, do desejo de ser melhor e do como somos, respeitando cada um, dentro de sua individualidade, a sua busca de construir a construir-se.

      Partindo do pressuposto que só é valido o que é viável, é preciso saber tomar decisões em conjunto, trabalhar em parceria, estar aberto as necessidades, saber voltar atrás com segurança, saber integrar o grupo, buscando alternativas conjuntas. Essas atitudes facilitam a articulação da Orientação Pedagógica e Educacional com os diferentes membros e setores da escola no ambiente escolar. É oportuno salientar  que a Coordenação deve tentar descobrir, inventar, criar maneiras de estimular as diferenças existentes, pois precisamos de valores fortes que nos levem a aceitar, respeitar e tornar significativo o trabalho de uns com os outros para o bem de todos.

     A Equipe Pedagógica deve reconhecer o trabalho do professor, sendo capaz de elogiá-lo, contribuir para que a sua atuação seja eficaz, elevando a sua autoestima. Nesse educador, pode-se perceber alguém que ama a própria profissão, que investe na sua atualização, que é capaz de estabelecer uma relação profunda e madura frente à opção professor, tendo consciência de suas possibilidades e buscando realizar-se como pessoa. Dessa forma, aprende a amar o trabalho e começa a descobrir valores importantes, tornando-se um profissional capacitado. Estreitando assim o "laço" e evitando a formação de um "nó"  na escola.

Sintomas e sinais da Dislexia


Na Primeira Infância:
1 - atraso no desenvolvimento motor desde a fase do engatinhar, sentar e andar;
2 - atraso ou deficiência na aquisição da fala, desde o balbucio á pronúncia de palavras;
3 - parece difícil para essa criança entender o que está ouvindo;
4 - distúrbios do sono;
5 - enurese noturna;
6 - suscetibilidade à alergias e à infecções;
7 - tendência à hiper ou a hipo-atividade motora;
8 - chora muito e parece inquieta ou agitada com muita freqüência;
9 - dificuldades para aprender a andar de triciclo;
10 - dificuldades de adaptação nos primeiros anos escolares.

Observação:
Pesquisas científicas neurobiológicas recentes concluiram que o sintoma mais conclusivo acerca do risco de dislexia em uma criança, pequena ou mais velha, é o atraso na aquisição da fala e sua deficiente percepção fonética. Quando este sintoma está associado a outros casos familiares de dificuldades de aprendizado - dislexia é, comprovadamente, genética, afirmam especialistas que essa criança pode vir a ser avaliada já a partir de cinco anos e meio, idade ideal para o início de um programa remediativo, que pode trazer as respostas mais favoráveis para superar ou minimizar essa dificuldade.
A dificuldade de discriminação fonológica leva a criança a pronunciar as palavras de maneira errada. Essa falta de consciência fonética, decorrente da percepção imprecisa dos sons básicos que compõem as palavras, acontece, já, a partir do som da letra e da sílaba. Essas crianças podem expressar um alto nível de inteligência, "entendendo tudo o que ouvem", como costumam observar suas mães, porque têm uma excelente memória auditiva. Portanto, sua dificuldade fonológica não se refere à identificação do significado de discriminação sonora da palavra inteira, mas da percepção das partes sonoras diferenciais de que a palavra é composta. Esta a razão porque o disléxico apresenta dificuldades significativas em leitura, que leva a tornar-se, até, extremamente difícil sua soletração de sílabas e palavras. Por isto, sua tendência é ler a palavra inteira, encontrando dificuldades de soletração sempre que se defronta com uma palavra nova.
Porque, freqüentemente, essas crianças apresentam mais dificuldades na conquista de
domínio do equilíbrio de seu corpo com relação à gravidade, é comum que pais possam submete-las a exercícios nos chamados "andadores" ou "voadores". Prática que, advertem os especialistas, além de trazer graves riscos de acidentes, é absolutamente inadequada para a aquisição de equilíbrio e desenvolvimento de sua capacidade de andar, como interfere, negativamente, na cooperação harmônica entre áreas motoras dos hemisférios esquerdo-direito do cérebro. Por isto, crianças que exercitam a marcha em "andador", só adquirem o domínio de andar sozinhas, sem apoio, mais tardiamente do que as outras crianças.
Além disso, o uso do andador como exercício para conquista da marcha ou visando uma maior desenvoltura no andar dessa criança, também contribui, de maneira comprovadamente negativa, em seu desenvolvimento psicomotor potencial-global, em seu processo natural e harmônico de maturação e colaboração de lateralidade hemisférica-cerebral.


A Partir dos Sete Anos de Idade:
1 - pode ser extremamente lento ao fazer seus deveres:
2 - ao contrário, seus deveres podem ser feitos rapidamente e com muitos erros;
3 - copia com letra bonita, mas tem pobre compreensão do texto ou não lê o que escreve;
4 - a fluência em leitura é inadequada para a idade;
5 - inventa, acrescenta ou omite palavras ao ler e ao escrever;
6 - só faz leitura silenciosa;
7 - ao contrário, só entende o que lê, quando lê em voz alta para poder ouvir o som da palavra;
8 - sua letra pode ser mal grafada e, até, ininteligível; pode borrar ou ligar as palavras entre si;
9 - pode omitir, acrescentar, trocar ou inverter a ordem e direção de letras e sílabas;
10 - esquece aquilo que aprendera muito bem, em poucas horas, dias ou semanas;
11 - é mais fácil, ou só é capaz de bem transmitir o que sabe através de exames orais;
12 - ao contrário, pode ser mais fácil escrever o que sabe do que falar aquilo que sabe;
13 - tem grande imaginação e criatividade;
14 - desliga-se facilmente, entrando "no mundo da lua";
15 - tem dor de barriga na hora de ir para a escola e pode ter febre alta em dias de prova;
16 - porque se liga em tudo, não consegue concentrar a atenção em um só estímulo;
17 - baixa auto-imagem e auto-estima; não gosta de ir para a escola;
18 - esquiva-se de ler, especialmente em voz alta;
19 - perde-se facilmente no espaço e no tempo; sempre perde e esquece seus pertences;
20 - tem mudanças bruscas de humor;
21 - é impulsivo e interrompe os demais para falar;
22 - não consegue falar se outra pessoa estiver falando ao mesmo tempo em que ele fala;
23 - é muito tímido e desligado; sob pressão, pode falar o oposto do que desejaria;
24 - tem dificuldades visuais, embora um exame não revele problemas com seus olhos;
25 - embora alguns sejam atletas, outros mal conseguem chutar, jogar ou apanhar uma bola;
26 - confunde direita-esquerda, em cima-em baixo; na frente-atrás;
27 - é comum apresentar lateralidade cruzada; muitos são canhestros e outros ambidestros;
28 - dificuldade para ler as horas, para seqüências como dia, mês e estação do ano;
29 - dificuldade em aritmética básica e/ou em matemática mais avançada;
30 - depende do uso dos dedos para contar, de truques e objetos para calcular;
31 - sabe contar, mas tem dificuldades em contar objetos e lidar com dinheiro;
32 - é capaz de cálculos aritméticos, mas não resolve problemas matemáticos ou algébricos;
33 - embora resolva cálculo algébrico mentalmente, não elabora cálculo aritmético;
34 - tem excelente memória de longo prazo, lembrando experiências, filmes, lugares e faces;
35 - boa memória longa, mas pobre memória imediata, curta e de médio prazo;
36 - pode ter pobre memória visual, mas excelente memória e acuidade auditivas;
37 - pensa através de imagem e sentimento, não com o som de palavras;
38 - é extremamente desordenado, seus cadernos e livros são borrados e amassados;
39 - não tem atraso e dificuldades suficientes para que seja percebido e ajudado na escola;
40 - pode estar sempre brincando, tentando ser aceito nem que seja como "palhaço" ;
41 - frustra-se facilmente com a escola, com a leitura, com a matemática, com a escrita;
42 - tem pré-disposição à alergias e à doenças infecciosas;
43 - tolerância muito alta ou muito baixa à dor;
44 - forte senso de justiça;
45 - muito sensível e emocional, busca sempre a perfeição que lhe é difícil atingir;
46 - dificuldades para andar de bicicleta, para abotoar, para amarrar o cordão dos sapatos;
47 - manter o equilíbrio e exercícios físicos são extremamente difíceis para muitos disléxicos;
48 - com muito barulho, o disléxico se sente confuso, desliga e age como se estivesse distraído;
49 - sua escrita pode ser extremamente lenta, laboriosa, ilegível, sem domínio do espaço na página;
50 - cerca de 80% dos disléxicos têm dificuldades em soletração e em leitura.

Crianças disléxicas apresentam combinações de sintomas, em intensidade de níveis que variam entre o sutil ao severo, de modo absolutamente pessoal. Em algumas delas há um número maior de sintomas e sinais; em outras, são observadas somente algumas características. Quando sinais só aparecem enquanto a criança é pequena, ou se alguns desses sintomas somente se mostram algumas vezes, isto não significa que possam estar associados à Dislexia. Inclusive, há crianças que só conquistam uma maturação neurológica mais lentamente e que, por isto, somente têm um quadro mais satisfatório de evolução, também em seu processo pessoal de aprendizado, mais tardiamente do que a média de crianças de sua idade.

Pesquisadores têm enfatizado que a dificuldade de soletração tem-se evidenciado como um sintoma muito forte da Dislexia. Há o resultado de um trabalho recente, publicado no jornal Biological Psychiatry e referido no The Associated Press em 15/7/02, onde foram estudadas as dificuldades de disléxicos em idade entre 7 e 18 anos, que reafirma uma outra conclusão de pesquisa realizada com disléxicos adultos em 1998, constando do seguinte:
que quanto melhor uma criança seja capaz de ler, melhor ativação ela mostra em uma específica área cerebral, quando envolvida em exercício de soletração de palavras. Esses pesquisadores usaram a técnica de Imagem Funcional de Ressonância Magnética, que revela como diferentes áreas cerebrais são estimuladas durante atividades específicas. Esta descoberta enfatiza que essa região cerebral é a chave para a habilidade de leitura, conforme sugerem esses estudos.

Essa área, atrás do ouvido esquerdo, é chamada região ocipto-temporal esquerda. Cientistas que, agora, estão tentando definir que circuitos estão envolvidos e o que ocorre de errado em Dislexia, advertem que essa tecnologia não pode ser usada para diagnosticar Dislexia.

Esses pesquisadores ainda esclarecem que crianças disléxicas mais velhas mostram mais atividade em uma diferente região cerebral do que os disléxicos mais novos. O que sugere que essa outra área assumiu esse comando cerebral de modo compensatório, possibilitando que essas crianças conseguiam ler, porém somente com o exercício de um grande esforço.

Atire a primeira pedra - Celso Antunes

Fernando é um garoto extraordinário. Alegre, criativo e inteligente, é capaz de resolver problemas matemáticos com uma facilidade que surpreende seus professores e às vezes até irrita os colegas. Tímido, não possui muitos amigos, mas é querido e admirado pelas amizades que conquistou e que sabe com serenidade preservar. No entanto, Fernando possui dificuldades enormes na escrita, decodifica com muito sacrifício os textos, suas redações quase sempre representam verdadeiros “desastres” e ele troca letras e confunde palavras, sendo incapaz de organizar rimas ou criar metáforas verbais. Fernando possui dislexia e, portanto, é portador de um distúrbio de aprendizagem.
Henrique é também um bom garoto. Excelente jogador de futebol, nada como um peixe, e ninguém o supera em conhecimentos sobre temas esportivos. É também muito bom em História, Literatura e Geografia, mostrando em suas provas que não apenas sabe o que o professor ensina, mas vai muito além, exercitando a capacidade de deduzir, sintetizar e, sobretudo, de refletir. Ninguém duvida de sua qualidade exponencial em Filosofia e de sua capacidade de se relacionar com os outros e até mesmo de compreender e ajudar as pessoas. Henrique, entretanto, é péssimo em Matemática — não consegue compreender proporções e equações que alunos mais novos dominam com suficiência. Acontece que Henrique possui déficit de memória adquirida e, portador desse distúrbio de aprendizagem, nunca chegará a ser um físico, matemático ou engenheiro.
Ana Helena é muito querida na escola e constitui personagem obrigatória em todas as festas e gincanas organizadas por seus colegas. Extremamente criativa, é capaz de propor brincadeiras formidáveis, peças teatrais excelentes e histórias que encantam pela interação entre o raciocínio lógico e o romantismo, entre a poesia e o cotidiano das ruas. Entretanto, não consegue manter suas relações afetivas, troca de amigos com exaltada paixão, é sempre muito impulsiva, raramente termina a frase que começa e esquece com facilidade de concluir a prova da matéria que tão bem conhece. Ana Helena possui transtorno de atenção com déficit de hiperatividade e, tal como Henrique e Fernando, é vítima de distúrbio de aprendizagem.
Eu tenho 66 anos e sou professor. Não consegui aprender a nadar mesmo tendo me esforçado bastante, sou verdadeira calamidade na cozinha, e minhas habilidades culinárias jamais foram além de um ovo frito. Não sei dançar, e minha mulher vive reclamando de que sou péssimo motorista. Não sou lá muito diferente de Fernando, Henrique ou Ana Helena e, pensando bem, minhas deficiências são bem maiores e mais comprometedoras para viver a vida que se leva. Ocorre, porém, que elas são socialmente aceitas e, por isso, não recebi qualquer rótulo e não sou portador de distúrbio de aprendizagem. Sou apenas um velho incompetente para habilidades muito mais essenciais que a redação, o domínio matemático ou a impulsividade, mas beneficiado por uma crença que me separa com honraria de outros melhores que eu: vejo-os escorraçados por algumas dificuldades aqui e ali, em nada comprometedoras para viver.
Creio que você é melhor que eu na cozinha, na piscina, nas festas ou no volante, mas por certo deve ter lá também suas incompetências. É bom que assim seja, porque isso nos faz diferentes, e sei que preciso de você em algumas coisas, mas posso lhe oferecer outras. Esse é o encanto e o segredo da diversidade que necessita com urgência chamar para esse quadro todos que são aqui e ali rotulados como deficientes.
Se por acaso alguém é perfeitamente bom em tudo, que jogue no cesto de lixo esse papel e atire a primeira pedra…

“Dislexia: diagnóstico e intervenção sob o olhar da psicopedagogia, fonoaudiologia e neurologia”


Qual a importância do diagnóstico e intervenção na dislexia para o processo educativo?Muitas são as razões que podem acarretar limitações no processo de aprendizagem e, até mesmo, o completo fracasso escolar com todas as suas conseqüências danosas em termos sociais, afetivos e cognitivos. A dislexia pode ser uma dessas causas. Como qualquer fator que possa interferir no bom andamento da escolarização, o diagnóstico da dislexia é de fundamental importância. Embora não tenhamos uma noção exata da prevalência de tal tipo de problema no Brasil, existem estimativas, em outros países, de que cerca de 5% da população escolar possa ter um problema desta natureza, prejudicando o aprendizado e o domínio de uma poderosa forma de alcançar e produzir conhecimentos, que é a linguagem escrita. Segundo os dados do INEP, já em 2007, tínhamos um universo de cerca de 39 milhões de crianças cursando a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. Isso significa uma possibilidade de encontrarmos, ficando limitados a essa população, cerca de 760.000 jovens escolares com distúrbios específicos de leitura, ou seja, com dislexia. Portanto, fica mais do que evidente a necessidade de se compreender de modo mais adequado o que é esse distúrbio, como ele se manifesta, diferenciá-lo de outros problemas que também limitam o aprender e, acima de tudo, criar condições para o desenvolvimento de programas de intervenção, principalmente dentro do próprio espaço escolar. Dislexia é mais do que um problema de saúde, é uma questão educacional e social, que requer a busca integrada de soluções.

Qual o termo correto para definirmos a dislexia: transtorno, desordem ou distúrbio?
No inglês, a dislexia tem sido freqüentemente definida como “disorder” e, desta maneira, pode ser encontrada, por exemplo, no Dictionary of Speech-Language Pathology (Singh & Kent, Singular, 2000), que descreve “dyslexia is a disorder…” De acordo com o Dicionário Médico de Stdeman (Guanabara Koogan, 1996), o termo “disorder”, que vem do inglês, significa “distúrbio”, ou seja, “a alteração de uma função ou estrutura, resultante de uma falha genética ou embriológica no desenvolvimento ou de fatores exógenos, tais como um tóxico, traumatismo ou doença”. O Dicionário Médico Ilustrado de Dorland (Manole, 1999), segue a mesma linha descrevendo que esse termo corresponde a um “distúrbio”, mais especificamente, “um transtorno ou anomalidade de função; um estado mórbido físico ou mental”. Este conceito, de acordo com o mesmo dicionário, estende-se, por exemplo, à ansiedade, à atenção, ao autismo, ao comportamento bipolar e muitos outros problemas desta ordem. Provavelmente, o termo “desordem” seja originário de uma tradução incorreta da palavra “disorder”, do inglês, a qual, segundo os dicionários de natureza médica, deve ser traduzida para o português como “distúrbio”. Portanto, devemos descartar o uso de “desordem”. Por outro lado, o DSM-IV (Manual Estatístico de Transtornos Mentais, Artes Médicas, 1994), denomina estes problemas como “transtornos”. No caso da dislexia, ela é considerada como um “transtorno de leitura”. Por sua vez, o CID 10 (Classificação Internacional de Doenças, Versão 1.6c - ©1993 by CBCD e DATASUS), lança mão da mesma denominação, colocando a dislexia na categoria dos “Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares”. Levando em consideração as definições e usos mais comumente encontrados, o emprego do termo “distúrbio”, assim como “transtorno” parece apropriado e compatível, o que não ocorre com o uso de “desordem”.

O transtorno da leitura e escrita aparece somente quando a criança inicia a vida escolar ou podemos percebê-la antes dessa fase?
Se tomarmos as definições com o devido rigor, a dislexia significa um distúrbio no aprendizado da leitura. Portanto, devemos esperar sua manifestação a partir do momento em que um processo formal e contínuo de ensino da língua escrita tenha início. Ou seja, podemos tomar como ponto de partida a alfabetização ou, mais especificamente, os problemas que ocorrerão deste momento em diante. Por sua vez, aprender a ler e a escrever são habilidades de natureza lingüística que envolve conhecimentos que a criança vai desenvolvendo desde muito cedo. Antes de aprender a escrever as crianças, de modo geral, já apresentam um domínio significativo da linguagem falada. Neste sentido, devemos sempre nos preocupar com aquelas crianças que, desde muito cedo, vêm apresentando alguma alteração na aquisição da linguagem falada, como é o caso dos atrasos de desenvolvimento da linguagem, as limitações de vocabulário, as dificuldades de compreensão, de manutenção de diálogos, de organização do discurso, de fala, e assim por diante. Outros indicadores podem ser as limitações para lidar com rimas, com sílabas, com a discriminação de sons, habilidades estas de alta demanda para o ato futuro de leitura e escrita. Podemos considerar tais crianças na categoria de risco, isto é, elas podem vir a apresentar problemas diversos para aprender a ler e a escrever, dentre eles a dislexia. O mesmo ocorre com aquelas crianças cujos familiares já apresentam histórico de problemas de aprendizagem. Por outro lado, muitos sujeitos disléxicos apresentam um histórico de desenvolvimento sem problemas desta ordem, sendo que eles passam a surgir no momento da alfabetização formal. De qualquer modo, sempre devemos procurar fazer intervenções nas crianças com problemas de aquisição da linguagem oral, antes de ter início um processo de alfabetização. Tal procedimento não somente poderá ajudá-las a aumentar suas competências em linguagem oral, como também poderá facilitar o aprendizado da linguagem escrita.

Qual a diferença entre a dislexia de desenvolvimento e a dislexia adquirida?
A dislexia de desenvolvimento é um distúrbio de natureza congênita, o que significa que a criança já nasce com certas características de organização e funcionamento neurológico que poderão vir a complicar determinados tipos de aprendizagens, como a leitura e a escrita, caso ela tenha a oportunidade de vir a ser alfabetizada. Por sua vez, a dislexia adquirida corresponde à perda, em graus variados, da capacidade de ler e escrever em pessoas que já haviam desenvolvido tal habilidade e que poderiam ser até mesmo altamente capazes para tanto. Em geral, a dislexia adquirida é um quadro decorrente de fatores que agridem o cérebro, como é o caso de tumores, acidente vascular encefálico e traumatismos, principalmente em regiões responsáveis por tais funções. Contrariamente ao disléxico de desenvolvimento, a pessoa com dislexia adquirida pode ter aprendido a ler e a escrever sem qualquer dificuldade.

Nos casos de dislexia, o foco de atuação de cada profissional de diferentes áreas como medicina, psicologia, psicopedagogia, fonoaudiologia, etc...gera múltiplas classificações e intervenções. Em sua opinião esses profissionais não teriam mais sucesso se trabalhassem como uma equipe?
Definir conceitos, delimitar seus usos e aplicações, criar critérios comuns e bem fundamentados de avaliação e diagnóstico, são aspectos fundamentais para que compreendamos de modo mais apropriado o universo complexo dos problemas de aprendizagem, dentre eles a dislexia. Muitas vezes, dentro de um mesmo campo profissional, encontramos formas variadas de pensar e conceituar a dislexia. Esta falta de critérios acaba prejudicando a comunicação interprofissional, provocando situações polêmicas e controvertidas. E, o que é pior, contribui para a formação de idéias distorcidas, principalmente por parte da comunidade leiga.
Cada vez mais se mostra necessária uma atuação multiprofissional, com equipes trabalhando com pressupostos comuns e bem fundamentados cientificamente. Podemos dizer que a equipe deve estar “afinada”, em sintonia, como numa orquestra, na qual cada um desempenha, de forma integrada, seu papel. Quando falamos em equipe, sempre pensamos na proximidade física de seus componentes. Porém, nem sempre é possível reunir, em um mesmo local, um conjunto integrado de profissionais. Entretanto, isso não impede que profissionais, embora atuando em espaços distintos, tenham essa possibilidade de integração e, principalmente, de troca e de oportunidades sistemáticas de estudos e discussão dos casos avaliados.

Atualmente, as escolas e os educadores estão preparados para lidar com o sujeito disléxico? Nota-se uma atitude mais colaborativa que no passado?
Infelizmente, as escolas e os educadores, com algumas exceções, ainda não estão preparados para lidar com alunos disléxicos ou com outros problemas de aprendizagem. Temos visto, muitas vezes, falta de preparo para lidar até mesmo com crianças que não apresentam problemas ou limitações para o aprender. Ensinar, e ensinar bem, têm se mostrado uma tarefa bastante difícil e desafiadora. Basta ver os índices de desempenho nas provas oficiais de avaliação que têm sido atualmente aplicadas. Crianças que não aprendem são desafiadoras, de modo geral. Porém, dentro desse quadro bastante preocupante, temos visto um grande número de educadores dispostos a trabalhar por mudanças nesta situação. Para tanto, estão buscando formação e informação. Começa a existir uma atitude de ver os problemas de aprendizagem como problemas escolares, que devem ser pensados em termos de procedimentos educacionais, e não somente como problemas clínicos, extra-escolares. Ainda se observa, com muita freqüência, atitudes e crenças no sentido de que a criança que não aprende não é um problema escolar. Para aqueles que assim pensam, cabe à escola encaminhar tais crianças para diagnóstico e tratamento externos. Dentro de tal perspectiva, o papel da escola seria o de esperar que as crianças, a partir destas intervenções clínicas, ganhassem competências para acompanhar o programa escolar frente ao qual ficaram defasadas. É uma atitude de espera e cobrança (do outro). Não é este o papel que atribuo às escolas. Reafirmo que a dislexia também é um problema escolar, por natureza. Bem-vindos todos aqueles que acreditam que muito podem fazer para ajudar seus alunos que, embora possam ter alguma limitação ou dificuldade, não perderam suas capacidades para aprender. Basta querer e acreditar...

Por vezes, crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem são vistas como indolentes, desatentas, mal comportadas, etc...tanto pela escola como pela família. Como mudar esse quadro?
Alterações de comportamento com manifestações diversas, e até mesmo opostas, como a apatia, a desatenção, a ansiedade, a indolência, a depressão e a agressividade, podem ter como causa principal um desequilíbrio provocado por problemas de aprendizagem. Neste sentido, a dislexia é uma grande mestra. As crianças, de modo geral, sofrem cobranças externas, intensas e sistemáticas, por parte da família e da escola. Outras sofrem até muito mais pelo tanto de exigências que elas têm em relação a si mesmas. Não corresponder às próprias expectativas e às expectativas colocadas pelos outros pode gerar uma série de conflitos internos, que se manifestam através de comportamentos inadequados. Tais comportamentos, por sua vez, podem até mesmo agravar os problemas de aprendizagem da criança. Frente a situações como estas, os adultos, por não compreenderem tais manifestações, tendem naturalmente a reagir aumentando as queixas e as cobranças. Forma-se um círculo vicioso, cujo resultado é um agravamento, mesmo quando a intenção é a de “ajudar” a criança. Tal quadro, mais freqüente do que podemos supor, só pode ser mudado na medida em que família e escola compreendam que tais comportamentos podem ser decorrentes de um problema de base, que é a aprendizagem. De nada adiantará tentar combater os sintomas, sem que se compreendam quais são as causas. Crianças com problemas de aprendizagem precisam de ajuda, antes de qualquer cobrança. Para nós, adultos, parece muito natural ficarmos cobrando desempenho. Não paramos para nos questionar se estamos, em primeiro lugar, oferecendo conhecimentos, para depois cobrá-los. Via de regra, cobramos sem dar, sem ensinar.
Simplesmente cobramos, como se a criança devesse ser, por conta própria, capaz de responder a tudo o que desejamos que ela aprenda. Podemos sim, mudar tal situação. Precisamos, para tanto, compreender as angústias que os problemas de aprendizagem podem provocar. Precisamos aprender como ajudar tais crianças no sentido de que possam se sentir capazes de aprender e que, suas dificuldades, erros e enganos, não são os mais importantes. O fundamental é que elas se sintam capazes de aprender e que sintam o quanto apreciamos cada avanço que conseguem dar. Agindo desta forma, conseguiremos fazer com que a criança possa se sentir aceita, valorizada e segura.

Qual o papel da família quando falamos em dificuldades de aprendizagem?
O papel da família é de fundamental importância em todo o processo de desenvolvimento da criança. Porém, sua ação pode ter resultados variáveis. Um fato bastante presente nas famílias é o grau de ansiedade e preocupação que elas têm em relação ao aprendizado de seus filhos, principalmente quanto ao desempenho acadêmico. Falta de expectativa, ou excesso, pode ser prejudicial. Neste sentido, até mesmo crianças sem problemas escolares podem sentir o peso de cobranças mais intensas, acima daquilo que elas podem dar. De modo geral, essa ansiedade tende a aumentar quando a criança apresenta dificuldades de aprendizagem. A primeira idéia que ocorre é que a criança possa ser “preguiçosa”, “irresponsável”, etc. Muitas vezes essa situação é agravada pela própria postura da escola que começa a se “queixar” que a criança não está acompanhando o programa. Este não é um bom caminho para lidar com as dificuldades de aprendizagem. Daí a importância de um processo diagnóstico, que busque identificar o que, de fato, está ocorrendo com a criança que não aprende. Os pais devem ser orientados porque também podem ajudar, em muito, se de fato compreenderem as limitações e capacidades que seus filhos têm e o que pode e deve ser feito para que o aprendizado ocorra da melhor forma possível. Em nosso trabalho temos que pensar na criança, na escola e na família. Não conseguimos chegar muito longe sem considerar todos esses aspectos.

No Brasil, é uma realidade o trabalho do fonoaudiólogo dentro das escolas?
O trabalho do fonoaudiólogo dentro da escola tem se tornado uma realidade no Brasil. Não há dúvidas de que habilidades em linguagem falada e escrita são essenciais para o aprendizado escolar. Compreender o desenvolvimento normal da linguagem, suas possíveis alterações, traçar o perfil evolutivo típico dos vários tipos de problemas, desenvolver metodologias de aplicação pedagógica para facilitar o aprendizado, está dentro do rol de possibilidades do fonoaudiólogo nesta atuação. Na realidade, sempre houve um trabalho do fonoaudiólogo junto às escolas, porém predominantemente com enfoque para o atendimento clínico a partir de encaminhamentos realizados por elas. Atualmente, ao lado desta ação mais tradicional, têm aumentado o número de fonoaudiólogos preparados para a atuação dentro das escolas, com uma visão educacional. Nossa expectativa é a de que este campo se consolide cada vez mais, pelos próprios resultados que estão sendo colhidos pelas escolas que investiram nesta integração.

Que mensagem deixa aos congressistas, participantes e a todos os psicopedagogos e fonoaudiólogos?
Em primeiro lugar, reafirmar que os problemas de aprendizagem não se limitam à dislexia. Temos os distúrbios de aprendizagem e também os transtornos mais globais do desenvolvimento. Porém, a maior parte das crianças com baixo aprendizado, ou desempenho escolar deficitário, não apresenta, na realidade, verdadeiras limitações neste sentido. Estamos com dificuldades para ensinar, e ensinar bem. Esta nossa limitação tem gerado o que podemos chamar de pseudodistúrbios de aprendizagem. Isto quer dizer que, muitas vezes, o problema não está nos pequenos, que aprendem, mas sim, na gente grande, que ensina. Temos que ter cuidados para diferenciar adequadamente cada situação.
Para finalizar, vejo com muito bons olhos esse movimento de aproximação e de partilhamento cada vez mais intenso entre fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos, médicos e educadores. Os problemas que atualmente encontramos no campo da educação requerem a comunicação e troca interprofissional intensas, além de uma formação sólida e continuada. Temos que formar um time, um grande time, muito bem preparado. A torcida, ou seja, nossas crianças, agradecem.

Jaime Luiz Zorzi - Fonoaudiólogo e diretor do Cefac Centro de Pós-Graduação em Saúde e Educação. Possui graduação em fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1976), mestrado em distúrbios da comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988) e doutorado em educação pela Universidade Estadual de Campinas (1997). Atua como organizador e professor de cursos de especialização nas áreas de fonoaudiologia e educação, em programas de capacitação de professores e em assessoria educacional.