sábado, 31 de dezembro de 2011

Edgar Morin

"A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com freqüência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou, caso esteja adormecida, de despertar."

 


Edgar MorinEdgar Nahoun (que mais tarde adota o sobrenome "Morin") nasceu em Paris no dia 8 de julho de 1921. É o filho único de um casal de judeus sefarditas (descendentes dos judeus expulsos da península ibérica em 1492/1496).

Morin é Diretor Emérito do CNRS, Centro Nacional da Pesquisa Científica do qual participa ativamente.

Professor honoris causa da Universidade de Consenza na Itália.

Um dos maiores intelectuais vivos da atualidade, Edgar Morin, sociólogo e filosofo francês, tem influenciado decisivamente o pensamento científico contemporâneo. Crítico contundente da ciência moderna baseada na razão pura, esse autor propõe uma reavaliação dos métodos tradicionais das práticas científicas a partir da aquisição de um pensamento complexo. Morin lança o desafio de aceitarmos a desrazão e a incerteza como princípios inerentes a qualquer processo cognitivo. Em sua obra "Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro" nos contempla com uma profunda reflexão sobre temas fundamentais para a educação contemporânea.

Se vivemos em um mundo complexo e interligado, e novas informações nos fazem, a toda hora, mudar de planos, por que a escola ainda teima em ensinar certezas e conhecimentos que parecem únicos e absolutos? Questões como essa levaram Edgar Morin a propor uma nova estrutura para a educação, que implicasse também em uma reforma do pensamento. Nos anos 1990 ele foi convidado pelo Ministério da Educação de seu país para replanejar o ensino secundário. A mudança não ocorreu, mas logo suas idéias tomaram corpo e ultrapassaram as fronteiras da França. A convite da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Morin fez um estudo sobre quais seriam os temas que não poderiam faltar para formar o cidadão do século 21. Assim nasceu Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, texto que serviu de base para a elaboração de nossos Parâmetros Curriculares Nacionais, entre outros documentos.

Os processos de aprendizagem que visam para a pura transmissão de conhecimentos, segundo Morin, são cegos ao conhecimento humano. A educação pressupõe "sempre" a ameaça do erro e da ilusão, sem que estes sejam necessariamente reconhecidos como tais. O autor exemplifica esse fundamento referindo-se a teoria da informação que mostra as perturbações aleatórias e os ruídos como riscos imanentes a qualquer transmissão de informação ou comunicação de mensagens. Desta forma, por ser o ato cognitivo dependente de um intelecto-afeto que só é capaz de conhecer por meio das perturbações e traduções cerebrais com base em experiências internas do indivíduo, e nunca através do mundo exterior, o erro, a ilusão e a incerteza são partes constitutivas de qualquer saber.

A educação para o futuro pressupõe disponibilizar acesso ao conhecimento global. O conhecimento pertinente, diz o autor, é aquele que permite apreender o complexus, ou seja, aquilo que foi tecido junto. Se torna imprescindível a aquisição de conhecimentos com base em conjunções que possibilitem relacionar a multidismensionalidade do contexto, para então evidenciar a complexidade do mesmo. As hiperespecializações são obstáculos ao conhecimento do futuro porque já comprovaram ter sido inócuas à um saber contextualizador e integrador. São fechadas em si mesmas, parcelando e compartimentando os saberes, impedindo a preensão do que foi tecido junto, ou seja, do todo. Educar, portanto, denota ensinar a condição humana integrada nas mais diversas disciplinas, situando o sujeito no universo, e não separando-o dele.

O principal desafio para a educação do futuro é promover meios para a reforma do pensamento. É tarefa educativa ensinar a identidade planetária, a compreensão da ética do gênero humano. A compreensão, denuncia o autor, está ausente do ensino moderno. É vital para a sobrevivência do gênero humano sair do seu estado bárbaro de incompreensão e adquirir conhecimentos que oportunizem a solidariedade intelectual e moral para a humanidade. E, segundo Morin, há duas formas de compreensão. A compreensão intelectual ou objetiva que pressupõe inteligibilidade e modelos explicativos, e a compreensão humana intersubjetiva que transcende a simples explicação. Assim, compreender também inclui "um processo de empatia, de identificação e projeção".

É no contexto teórico dessas reflexões que Morin destaca a pertinência de uma reforma no pensamento moderno. Para ele, o conhecimento do futuro pressupõe habilidades que oportunizem ao educando articular e organizar conteúdos que adquiram sentido para ele mesmo. Isso só é possível através de uma postura aberta, não dogmática e consciente de que o erro e a incerteza são partes intrínsecas de qualquer processo de conhecimento. Para tanto, o autor nos desafia a usar a racionalidade em oposição a racionalização, que por ser fechada e determinista nega a contestação argumentativa. Assim, nas próprias palavras do autor "a verdadeira racionalidade é fruto do debate argumentado das idéias, e não a propriedade de um sistema de idéias". Morin, concluindo suas reflexões, deixa evidente que a tarefa da educação do futuro está em desenvolver a mútua compreensão das mentalidades planetárias com objetivos à democracia e à cidadania.


Para saber mais Pedagogia Indaiatuba indica:
Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro – 2ª ed. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000;
Título original: Les sept savoirs nécessaires à l’ education du futur;
Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawya; Revisão Técnica de Edgard de Assis Carvalho; Originalmente publicado pela United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) Paris, France.

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