domingo, 25 de setembro de 2011

Explorando a Ilha da tecnologia - Betina von Staa



“A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus.”
Sócrates (470-399 a.C.)
Em nosso último artigo, discutimos a importância dos adultos tomarem para si a responsabilidade de orientar os jovens quanto a hábitos de estudo, mesmo quando é necessário disputar com o apelo da tecnologia e dizer que não é possível (sempre) estudar com inúmeros recursos tecnológicos ligados ao mesmo tempo.
Se pensarmos em termos de ética e segurança na Internet, mais uma vez, teremos de chamar os adultos à ação, mesmo que pareça que os jovens dominam totalmente o mundo tecnológico e que não há nada que possamos fazer para orientá-los. A interação entre adultos e jovens certamente é produtiva, e é só assim que as gerações vão se entender mutuamente e aprender umas com as outras. Quando observamos os perigos da Internet, percebemos que os adultos têm muito a orientar os jovens, mesmo que façam um uso diferente da tecnologia que têm à sua disposição.
Ao observarmos um pouco mais de perto os depoimentos postados por alunos de todo o País, que participaram da nossa campanha Ética e Segurança na Internet, sobre enrascadas em que já se meteram por meio da Web, percebemos que os jovens andam sozinhos na exploração do novo mundo.
Há o caso de uma moça que marcou um encontro com um desconhecido em um cinema, e ele apareceu com mais quatro amigos. Nada ruim aconteceu, mas, depois, ela se tocou que poderia ter tido problemas. Em outra situação, uma menina marcou um encontro com alguém que achava que era um novo amigo, e, depois, descobriu que essa pessoa tinha a idade de seu pai, fugindo imediatamente. Um menino aprendeu a “hackear” computadores aos 9 anos, e foi sua irmã quem o alertou que essa atividade poderia lhe causar problemas. Além dessas ocorrências, há as de pessoas que colocaram suas fotos na Internet e que, depois, foram deturpadas e/ou disseminadas pela rede. Em nenhum dos depoimentos há um “personagem” adulto. Nem mesmo para dar uma bronca. Na verdade, parece que os adultos nem tomam conhecimento desses fatos. Os jovens aprendem sozinhos ou com amigos, que se arriscaram. Será verdade que quando nossos filhos agem via Internet, não há nada a fazer? Será que uma comunidade de jovens é o melhor ambiente para eles aprenderem a se defender nesse mundo em que tantos relacionamentos complicados são possíveis?
Outro elemento que chama a atenção nos depoimentos dos alunos é o seu ar de surpresa quando alguma decisão sua não parece adequada ou quando se metem em alguma enrascada. Muitos não imaginam que podem estar correndo algum risco ao marcar um encontro com um estranho, não conseguem avaliar o quanto seus interlocutores podem estar simulando uma identidade, ou não imaginam que possam ser traídos por amigos e namorados.
Acho que está claro que há muito a orientar a respeito dos riscos de relacionamentos e divulgação de dados na Internet: não é preciso entender de computador ou frequentar as mesmas comunidades que os filhos para orientá-los sobre o risco de marcarem encontros com desconhecidos. Não é preciso ser um usuário avançado de tecnologia para saber que, na Internet, as pessoas podem simular identidades e que, portanto, não se deve acreditar cegamente nas informações que passam sobre si mesmas. Podemos para conversar sobre isso com nossos filhos sem nunca termos chegado perto de um computador.
E quanto às fotos que são divulgadas sem consentimento do fotografado? É importante saber que qualquer informação, quando interessante ou divertida, tem o poder de se espalhar pela rede com muita facilidade. Quem faz isso, normalmente, são pessoas próximas a nós: amigos, colegas, alunos, ex-namorados ou namoradas. Ou seja, para evitar problemas, não devemos nunca, jamais, divulgar fotos que não queremos que se espalhem. Aliás, não devemos nem permitir, sempre que possível, que essas fotos sejam tiradas. No mundo de hoje, praticamente todos andam com uma câmera fotográfica ou uma filmadora no bolso: o celular.
Por incrível que pareça, os adolescentes que estão se divertindo em festas ou casais de namorados eternamente apaixonados, às vezes, esquecem-se dessas regras e permitem que sejam tiradas fotos constrangedoras, que depois são disseminadas na rede. Ou, pior, a própria pessoa envia sua foto constrangedora para um amigo ou namorado e esse trata de divulgá-la. Como orientar os jovens? Conversando, sabendo como e em que momentos os adolescentes estão tirando fotografias e explicando que fotos constrangedoras não devem ser tiradas, muito menos espalhadas. Em nome da diversão ou do ciúme, namorados e amigos traem, sim, e isso não é uma novidade do mundo tecnológico. A novidade é que é fácil e rápido fazer um bom estrago na reputação de uma pessoa na rede.
Vale lembrar que não são só os jovens que assumem riscos e se metem em problemas na Internet, mas eles são mais inexperientes e, muitas vezes, simplesmente não sabem avaliar as consequências de seus atos ou perceber os perigos que estão correndo. É por isso que os adultos, tanto pais quanto professores e orientadores têm o dever de orientá-los. Desse modo, pelo menos os desavisados, não ficarão mais tão imprudentes assim. E, com boas conversas antes que ocorram eventuais problemas, também é possível que os jovens procurem os adultos para receber ajuda, caso ela seja necessária algum dia. Hoje, não parece que eles estão recorrendo aos adultos para resolver suas dúvidas.
Não sabemos se jamais houve comunicação fácil entre gerações, mas temos consciência de que ela é necessária e não custa tentar estabelecê-la.

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