sábado, 31 de dezembro de 2011

Célestin Freinet



O pedagogo francês Celéstin Freinet (1896-1966) foi um grande educador popular e um inovador que conseguiu a façanha de ser expulso do Partido Comunista e do sistema público de ensino francês, apesar dos excelentes resultados educativos de seus métodos. Com certeza, sua paixão pelo diálogo com as crianças e a aversão a qualquer forma de autoritarismo e de "didatismo" não angariaram muita simpatia para esse comunista convicto junto aos burocratas.
Por volta de 1925, Freinet encontrava-se incapacitado de passar o dia dando aulas expositivas para os filhos de camponeses, seus alunos, nas aldeias do sul da França, por causa de um ferimento no pulmão durante a Primeira Guerra Mundial. Conhecedor das idéias da Escola Nova (na época, chamada de "Escola Ativa"), ele buscava caminhos para adaptá-las ao trabalho com crianças humildes.
A solução veio quando Freinet comprou uma velha imprensa, dessas de fazer jornais, e colocou-a no coração de sua sala. As crianças começaram a montar textos em que descreviam seus passeios pela aldeia, seus sonhos, seu mundo. Eles eram compostos e impressos até pelas crianças ainda não alfabetizadas. Logo, os alunos trocavam, pelo correio tradicional, textos, desenhos e poesias com escolas da França, de outros países da Europa e até da África.
Essa técnica, que ficou conhecida como correspondência interescolar, juntamente com os contatos com a comunidade e o texto livre (desenha-se e/ou escreve-se livremente sempre que houver vontade de expressar algo), constitui um dos fundamentos do método natural, criado por Freinet e relatado em uma série de livros belíssimos.
O trabalho de Freinet despertou grande admiração, inclusive de Piaget, que considerava o educador francês um pedagogo genial. Também teve muitos críticos, que o censuravam por promover a anarquia e a falta de rigor. As acusações parecem injustas, especialmente quando constatamos o alto grau de desenvolvimento da autonomia e do espírito crítico em alunos que freqüentam boas escolas Freinet.
O trabalho iniciado pelo pedagogo francês multiplicou-se e, até hoje, encontramos um grande número de escolas que adota a sua pedagogia. O trabalho de Freinet também pode inspirar escolas de linha mais tradicional que buscam renovar e enriquecer suas práticas.
A pedagogia Freinet é centralizada na criança e baseada sobre alguns princípios:
      • senso de responsbilidade
      • senso cooperativo
      • sociabilidade
      • julgamento pessoal
      • autonomia
      • expressão
      • criatividade
      • comunicação
      • reflexão individual e coletiva
      • afetividade
Invariantes Pedagógicas:



1. A criança é da mesma natureza que o adulto.
2. Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.
3. O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico, orgânico e constitucional.
4. A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias.
5. A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida, quando isto siginifica obedecer passivamente uma ordem externa.
6. Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por coerção, mesmo que, em particular, ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante.
7. Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais vantajosa.
8. Nnguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-se a rotinas nas quais não participa.
9. É fundamental a motivação para o trabalho.
10. É preciso abolir a escolástica.
10- a. Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo.
10- b. Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o trabalho.
11. Não são a observação, a explicação e a demonstração - processos essenciais da escola - as únicas vias normais de aquisição de conhecimento, mas a experência tateante,que é uma conduta natural e universal.
12. A memória, tão preconizada pela escola, não é válida, nem preciosa, a não ser quando está integrada no tateamento experimental,onde se encontra verdadeiramente a serviço da vida.
13. As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, como às vezes se crê, mas sim pela experîencia. Estudar primeiro regras e leis é colocar o carro na frente dos bois.
14. A inteligência não é uma faculdade específica, que funciona como um circuito fechado, independente dos demais elementos vitais do indivíduo, como ensina a escolástica.
15. A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que atua fora da realidade fica fixada na memória por meio de palavras e idéias.
16. A criança não gosta de receber lições autoritárias.
17. A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos de sua vida.
18. A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções. Isso carcteriza uma ofensa à dignidade humana, sobretudo se exercida publicamente.
19. As notas e classificações constituem sempre um erro.
20. Fale o menos possível.
21. A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela prefere o trabalho individual ou de equipe numa comunidade cooperativa.
22. A ordem e a disciplina são necessárias na aula.
23. Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não conduzem ao fim desejado e não passam de paliativo.
24. A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador.
25. A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico.
26. A concepção atual das grandes escolas conduz professores e alunos ao anonimato, o que é sempre um erro e cria barreiras.
27. A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
28. Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e, por sua vez, a criança ter respeito aos seus professores; só assim é possível educar dentro da dignidade.
29. A reação social e política, que manifesta uma reação pedagógica, é uma oposição com o qual temos que contar, sem que se possa evitá-la ou modificá-la.
30. É preciso ter esperança otimista na vida. (Sampaio, 1989: 81-99)



Técnicas Freinet
      • Aula passeio
      • Texto livre
      • Imprensa escolar
      • Correção
      • Livro da vida
      • Fichário de consulta
      • Plano de Trabalho
      • Correspondência interescolar
      • Auto-avaliação
Aula Passeio
Por acreditar que o interesse da criança não estava na escola e sim fora dela, Freinet idealizou esta atividade com o objetivo de trazer motivação, ação e vida para a escola.

Texto Livre
É a base da livre expressão, pode ser um desenho, um poema ou pintura. A criança determina a forma, o tema e o tempo para sua realização. Porém se a criança desejar que seu texto seja divulgado deverá passar pela correção coletiva.
Imprensa Escolar
Seu ponto de partida são as entrevistas, pesquisas, vivências e aulas-passeio. Freinet usava o tipógrafo. Todo processo de construção e impressão é coletivo.

Correção
Para o texto ser divulgado é necessário que esteja perfeito e a correção é fundamental. Ela pode ser feita coletivamente, ou em auto-correção. Freinet acredita que o "erro" deva ser trabalhado com a criança para que ela perceba e faça o acerto.

Livro da Vida
Funciona como um diário da classe, registrando a livre expressão (texto, desenho e pintura). Esta atividade permite que as crianças exponham seus diferentes modos de ver a aula e a vida.

Fichário de Consulta
Põe a disposição da criança exercícios destinados à aquisição dos mecanismos do cálculo, ortografia, gramática, história, ciências etc. São construídas em sala de aula pelos professores na interação com a turma. Freinet criticava duramente os livros didáticos fora da realidade da criança.

Plano de Trabalho
Tendo o currículo escolar como ponto de partida, os grupos de alunos se organizavam para escolher as estratégias de desenvolvimento das atividades que podiam ser realizadas em grupos, duplas, ou individualmente. Para registro do plano são elaboradas fichas onde são anotadas as realizações da semana.
Correspondência Interescolar
É uma atividade em que a criança faz a aprendizagem da vida coooperativa, uma classe se corresponde com a outra. Depois dos professores terem se comunicado e organizado a forma. Podem enviar: cartas, textos, fitas, vídeos, desenhos e e-mail.

Auto-Avaliação
A criança registra o resultado do seu trabalho em fichas de auto-avaliação que permitem constantes comparações entre os trabalhos realizados. Segundo Freinet o aluno e o professor devem se avaliar regularmente.
Para saber mais Pedagogia Indaiatuba recomenda:
  • FREINET, Celestin, BALESSE, L.. A leitura pela imprensa na escola. Lisboa: Dinalivro, 1977.
  • FREINET, Celestin, SALENGROS, R.. Modernizar a escola. Lisboa: Dinalivro, 1977.
  • FREINET, Elise. O itinerário de Célestin Freinet: a livre expressão na pedagogia de Freinet. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
  • FREINET, Elise. Nascimento de uma pedagogia popular. Lisboa: Estampa, 1978.
  • SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker Ferreira. Freinet: evolução histórica e atualidades. São Paulo: Scipione, 1989.

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